Isolamento
e Envolvimento - Charles Swindoll
Elevadores
são estranhos, não são? Em especial os lotados. Você fica todo espremido com
pessoas que nunca viu na vida, e então se esforça por todos os modos para não
se encostar neles. E ninguém abre a boca. Você ouve ocasionalmente um “boa
tarde” ou um “oh, me desculpe” enquanto algum atrapalhado pisa no dedo do pé de
outra pessoa. Você não olha para ninguém; na verdade, você não olha pra lado
nenhum, só para cima, para aqueles números bobos que sobem e descem. Estranho.
Pessoas que são basicamente da mesma cultura e falam a mesma língua, de repente
ficam em silêncio como freiras quando em um ambiente de claustro. É quase como
se existisse uma placa oficial com os dizeres: NÃO É PERMITIDO FALAR, SORRIR,
TOCAR, FAZER CONTATO VISUAL SEM O CONSENTIMENTO DO GERENTE. NÃO ABRIMOS
EXCEÇÕES.
Anos
atrás eu estava falando na Universidade de Oklahoma. Após a reunião, um grupo
de três ou quatro pessoas me convidou para tomar um refrigerante com eles. Já
que estávamos a vários andares acima do centro de estudo, decidimos pegar o
elevador para descer. Assim que a porta abriu, a coisa estava cheia de gente e
eles enviaram o olhar “vocês não estão pensando em entrar aqui, estão?”. Mas
nós entramos, naturalmente. Não tinha nem espaço para virar. Eu senti a porta
se fechando nas minhas costas enquanto todos me encaravam. Eu sorri e disse em
voz alta: “vocês devem estar perguntando o porquê desta reunião!”. Todos
começaram a rir. Foi uma coisa maravilhosa de se ver… Pessoas de fato se falando,
se relacionando uns com os outros… e no elevador.
Andei
pensando ultimamente, que um elevador é um microcosmo do nosso mundo hoje: uma
grande instituição impessoal onde o anonimato, o isolamento, e a independência
são os uniformes do dia. A qualidade básica social é ser diluído, distorcido e
humilhado. Nós estamos fora de forma na área de relacionamentos, como se
vivêssemos na “mentalidade do elevador”. Uma recente publicação do sociólogo
Ralph Larkin sobre a crise que afeta os jovens suburbanos, ressalta vários
aspectos desse mal estar. Muitas crianças da América são retratadas como
pessoas que aceitam a vida de uma visão vazia e sem sentido. A síndrome é agora
posta em movimento, que inclui um “baixo limiar de tédio, uma expressão de
constrição de emoções e aparente ausência de alegria nas coisas que não podem
ser imediatamente consumidas”. Faz sentido quando paramos para pensar nas
músicas, drogas, bebidas, sexo e status, símbolo de posses. Tire os shows de
rock e eventos esportivos e você raramente testemunhará fortes emoções.
Prevalecem
em nosso mundo uma indiferença, falta de comunicação, separação, falta de
comprometimento e cuidado. Refeições feitas com fones de ouvido em alto som,
até mesmo em quartos separados, cada um com seu telefone pessoal, sua
televisão, banheiros particulares, e atitudes do tipo “não é da sua conta”. Sem
necessidade de compartilhar. Sem necessidade de alcançar. Só olhar os números e
não olhar para ninguém.
O Dr.
Philip Zimbardo, professor de psicologia em Standford e autor de um dos livros
mais usados no campo, fala sobre esse assunto no livro “Psychology Today”
(Psicologia hoje), no artigo entitulado “The Age of Indiference” (A Era da
Indiferença). Ele escreve:
“Não
conheço nenhum assassino mais potente do que o isolamento. Não existe
influencia física ou mental mais destrutiva do que o isolamento do você para
comigo e do nós para com eles. Isso tem-se mostrado como o agente central da
etiologia da depressão, paranóia, esquizofrenia, estupro, suicídio, assassinato
em masa…”
E ele
adiciona:
“A
estratégia do inimigo para os nossos tempos é trivializar a existência humana
de várias maneiras: nos isolando uns dos outros enquanto criamos uma ilusão
causada pela pressão, demanda de trabalho, ansiedades criadas por incertezas
economicas, narcisismo e a feroz competição para ser o n° 1”… Nosso Salvador
modelou a resposta perfeitamente. Ele não só pregou a respeito. Ele se
importou. Ele escutou. Ele serviu. Ele alcançou. Ele suportou. Ele afirmou e
encorajou. Ele se manteve em contato. Ele andou com as pessoas…nunca pegou o
elevador.
A
única saída para a indiferença é pensar nas pessoas como nossos maiores
recursos “acalentadores”. Precisamos trabalhar arduamente para re-estabelecer a
alegria em família, refeições significativas, envolvimento com as pessoas,
tardes sem televisão, conversas não superficiais, momentos em que realmente nos
envolvemos com aqueles que precisam – não só orar por eles.
Pare o elevador. Eu
quero descer.